Super herói(s)…

Super herói(s)…

A cadeira é o miradouro do fascínio, os voos acrobáticos intensos, as cenas vibrantes, a banda sonora estonteante, tudo é exageradamente emocionante. Fico colado, alucinado, de respiração frenética, o coração pulsante, embebido nos sonhos de criança, com as visões dos cinco sentidos, distraídos nos poderes ilimitados deles, que defendem por amor a humanidade até vencerem.
Quem não gosta e não tem o seu super-herói favorito?
Sempre fui “alérgico” às aranhas, a proximidade, mesmo sem as ver a pele pressente e fico carregado de comichões, é o bicho que o corpo mais repulsa. Uma relação amor-ódio com os aracnídeos, entre a realidade e o irreal e mesmo assim o preferido na banda desenhada, é o Homem Aranha.
Vestia o fato da imaginação, contra o mundo do crime, travava comboios desgovernados, segurava aviões em queda, agarrava as balas de fogo, lançava teias para apagar chamas e prendia os bandidos. Vencedor, saía dos destroços, dos anfiteatros obscuros, escondido por detrás da máscara, na solidão do mistério dentro do traje de cores brilhantes. O ser humano existia para além das roupas, com paixões, pela sua “Jane”, um amor cândido e com desejos perdidos por uma vida normal.
E, ficava a sonhar ser um guardião, das almas anónimas que sofrem, acender luzes de esperança na escuridão, alimentar, sentimentos dos mais desfavorecidos com banhos de fé.
Agora, fecho os olhos e sinto como tudo passou num ápice, bem tento trepar paredes, voar sem capa, libertar as pessoas das armadilhas, aprisionar os delinquentes, mas afinal existe no presente muitas fraquezas reais que devem ser combatidas. Não tenho essa capacidade, os tiros, as bombas são atiradas pelo vírus matador de anjos, numa velocidade furiosa e os ponteiros do tempo voam enlouquecidos na ansiedade generalizada.
Um cardápio de comparações bem espelhadas na imensidão de sombras na alma.
As arenas dos gladiadores é nos hospitais, as facas afiadas são gotículas invisíveis, os rostos ocultos pelas máscaras cirúrgicas e os mantos voadores são batas descartáveis. As palavras nos olhares silenciosos dos profissionais de saúde, estão carregadas de soluços de mágoa, dor, mas não desistem na luta entre os escombros.
Se forem atingidos pelo vírus, podem sucumbir, não são imortais, não tem superpoderes, mesmo vergados pela exaustão, serão para sempre heróis pelas vitórias suadas, de enorme coragem em defesa da bandeira universal com as cores do arco-íris.
Hoje nesta cadeira de adulto, consciente da vida, são eles os meus super herói(s).

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