Abriste asas e deixaste as tuas memórias vaguearem numa pontualidade perdida das horas do relógio, mas numa tela de episódios e equilíbrios com enorme clarividência.

As etapas vividas são como gotas de água que salpicam em rebuliços dos cardumes de brisa do mar agitado da tua juventude e pelo espírito irreverente das tuas ousadias profundas que fluem na mente.

Recordas tudo através da janela do coração, o que eras na mocidade, os piropos pelo teu corpo de presépio pintado a aguarelas, a pele sem rugas e os cabelos joviais.

Pensamentos que não são carências da alma, nem gestão de emoções, talvez sinfonias de luz do teu espírito orgulhoso pela vida realizada, pois envelhecer é um privilégio que não está ao alcance de todos.

Neste viajar memorial pelo jardim de Éden, revês a tua pessoa do passado nas miúdas novas, suspiras não de inveja e crias cenários e paralelismos das várias fases da vida. Estás num novo capítulo, tens a experiência, és sóbria na montra da saudade, de sentimentos refinados, sobrevivente, guerreira e sabes que a vida é um dom único.

Neste intercâmbio de reações zen, reconheces que no passado os orgasmos eufóricos eram por paixões de papel, frágeis de sentimentos e agora tens orgasmos de amor autêntico, pela entrega ao homem que te ama. Os palavrões de incitamento nos trapézios sexuais eram vazios de poderes da alma, enquanto hoje, são gemidos de poesia, caravanas de desejos, carícias de pequenos sussurros. Os arrepios não são frios, mas sim ardentes de sensibilidade.

Já tiveste vinte cinco anos, onde tudo eram labaredas, ardores sem freio, loucuras de excessos das folias das hormonas vestidas de vibrações endiabradas e é nos filhos que rebobinas novos reportórios de sonhos.

Ouves os silêncios, mas eles não são vazios, estão repletos de respostas e que vão escancarar muitas histórias e vivências futuras.

Madura, mais humana com muitas fontes de vida, és uma estrela brilhante na imensidão da constelação e ainda continuas a iluminar as pegadas do amor, nesta viagem do tempo.

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