Anestesiada nos desejos…

Anestesiada nos desejos…

Abriste as cortinas dos sonhos da tua casa na intenção do deslumbramento, tudo encenado como um trapézio de figurinos perfeitos.
Pelos pormenores pressinto tudo feito nos bastidores, os ares perfumados das luzes das velas, as pratas dos talheres reluzentes, os bem posicionados pratos demonstram o estoicismo da tua parte.
A forma extravagante da sensualidade está pintada e desenhada em cada contorno de teu justíssimo vestido preto, onde o abrasador decote cria a ilusão da partilha de teus pomposos seios.
Teu compromisso está a preceito, queres arrombar na fascinação, teres o poder de criar em mim a eterna dúvida no suspirar por ti.
Tudo pelo teu tributo arrasador feminista.
A cada garfada discreta no jantar, ergues o copo nos esfuziantes brindes feitos com olhares sedutores de provocação, sempre numa coreografia para embalar o Criador.
Pelas tuas simulações e insinuações, pelos olhares vincados em arraiais desafiantes, ergues e desfraldas a bandeira das imoralidades no intuito do desafio.
Brindas com o cálice da tentação como se estivesses emocionada com palavras de deboche, proferes toda uma temática de júbilos, de sonhos entrelaçados como se fosses a fonte dos prazeres.
Cavalheiro como sempre, tento recriar tuas mirabolantes pretensões de entrar em lugares proibidos e como mestre na criação de desejos faço brindes como se eu fosse o cordeiro sacrificado.
Cada bater de copos no ar, cada tragar do vinho na aliança do álcool, misturado com serenatas de gargalhadas sem pudores, teu corpo inicia pequenas danças cambaleantes.
É o momento de interagir contigo, de criar em ti a arte da ilusão, de sentires a intuição da luz da promiscuidade cruzar teu corpo como se estivesse envolvido no olimpo dos meus rituais.
Sentada no sofá, minha voz inspirada na bênção poética, soletro meus pensamentos absorvidos de tua mente. Tudo que recrio é tudo o que anseias.
Entras num sonho desorientador na inquietude presente dos teus desejos vulcânicos, tua alma está encardida, mas não quero saquear tuas quimeras como se fossem simples castelos de areia a desmoronar.
Prostrado na tua frente como se fosse um padre no altar, ligo os microfones da luxuria, os candeeiros do erotismo e no dom da palavra lanço a homilia por ti desejada:
“Sente a minha devassa de tua intimidade, o desgrenhar de teu corpo pela língua serpenteadora sem freios, o rodopiar do aperto dos dedos nos seios carentes de rotinas com destreza, os beijos atléticos na travessia de poro em poro.
Ouve o som dos splachs vibratórios do teu clitóris pelo colar da minha boca na tua vagina como se fosse uma lapa no rochedo e liberta para o universo das almas os gemidos impregnados do odor dos sexos.
Vibra em arrepios de nobrezas assanhadas sem pudor, vocifera palavrões escaldantes do calão sexual nesta excursão sem limites”
As orações proferidas na tua lucidez alcoolizada, ficas com respiração ofegante, com o vestido todo rasgado pelos teus rituais na crença e tombas no sofá teu corpo carregado das adrenalinas alimentadas pela fantasia da superação.
A mancha molhada no lugar do teu traseiro exposta no sofá é a testemunha vital do teu orgasmo e que tudo que desejavas encarnar na minha envolvência viveste no momento, mas sempre ludibriada pela devoção anestesiada dos desejos.

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