Penso, logo existo...

Penso, logo existo...

Hoje, na solidão visto-me de forma misteriosa, com agitações na privacidade totalmente ocultas até para mim. Vou tentar recriar reflexões da mente daquilo que sinto na intimidade, sem preconceitos, sem tabus, mas com a liberdade de pensamentos. Sejam eles quais forem, suicidas, ardentes, loucos, mas sempre iluminado para devaneios em versos por tudo que me magnetiza.
Vendo os olhos e rendido nesta fusão de fascínios, a mente arde compulsivamente e iniciam-se lutas na ilusão do espelho entre o corpo e a alma. Choques do material e imaterial que se gladiam, mas que se contemplam em elevações dignas de sensibilidade infinita. As mãos sensíveis a cada indecência do corpo feminino, a alma palpita em sentimentos doces do amor.
No tatear, vasculho gavetas, armários, sinto o cheiro de memórias em cartas antigas a esvoaçar, ouço retratos que se movem e falam rótulos de malícias passadas e deixo-me hipnotizar pelos sentidos, como se estivesse a devassar a minha própria vida.
Sempre que um novo ciclo inicia, um novo ano começa, abrem-se outros horizontes e gosto de sentir as mudanças das páginas do tempo, é como abrir uma caixa de pandora do íntimo do meu ser.
Adoro impregnar as hormonas com excitação das fantasias, nos pormenores de cada sedução das mulheres quando ultrapassam os limites e faz-me sentir um mestre na recriação de desejos.
Remexo mais armários e em cada objeto que toco, tento na obscuridade da visão sentir com os dedos de veludo as visões imaginárias, os odores absorvidos pelos poros sensíveis. Nos silêncios nunca sou cego, porque sinto, sempre amei sentir mesmo sem ver…
Entre os dedos, escorrega um relógio de bolso, tem as marcas do passado, ouço o tic-tac que grita como bocas sedentas de uivos dos prazeres, como se fossem das lobas famintas. Não paro de tatear e nesta cegueira leio as palavras no livro poeirento, que ainda sopra melodias com chamas da essência mulher. As sílabas transpiram suores, beijos, carícias e as pontuações exclamam com vigor, orgasmos derramados. Cada parágrafo leva-me a tentações de ereções incondicionais a, promiscuidades dissimuladas das heresias remotas, mas que voam nas letras como se fossem sátiras em flautas magicas. 
Efusivo pelas tentações, resvalo nas imperfeições e deixo as mãos voarem como se fossem o piloto dos pensamentos e espeto espinhos da rosa. Os dedos pingam gotas de sangue, vermelho dos pecados, que sacudo aleatoriamente, talvez representem tragédias vividas, lágrimas de dor, mas prefiro sentir a delicadeza do perfume das pétalas. Ensanguentadas deslizam, no contacto das plumas macias das algemas, elas carregam momentos íntimos, profundos de loucuras. Ainda ouço os gritos dos júbilos com piedade, nas fantasias de submissões rebeldes das deusas imortais deste nobre cavaleiro.
Uma simbiose de vibrações que enche o espírito, inspirações que abraçam o corpo e a alma, numa osmose que sinto e penso…
Se penso logo existo, sou o Criador.

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