Barco de papel...

Barco de papel...

Um dia diferente dos rebuliços do quotidiano no capitólio dos sonhos.
Prescindi das cadeiras do trono, das árvores mágicas, dos sussurros musicais, das camas ardentes, das varinhas da fantasia e dos espelhos suados.
Procuro a diferença no outro lado oculto dos objetos desejados pela obsessão e pelos delírios dos acenos inocentes das donzelas.
Sinto o desejo de vaguear despojado das sementes carnais do diabo e das linhas cruzadas das noites intensas com as esfaimadas da boémia.
Preciso sentir no corpo e na alma a nudez de tudo, dos segredos absurdos, dos prazeres das loucuras de loucos e dos gritos famintos das fêmeas.
Quero somente ouvir os meus passos com vida e sentir, apenas sentir.
Do jantar solitário trouxe apenas o guardanapo de papel, não tem floreados nem cor, apenas simplesmente branco e unicamente com pequenos pontos picotados que fazem lembrar os pontos da escrita em braile.
Caminho pela areia macia e ouço as almas e anagogias no papel.
Faço dele um pequeno barco, preparado para destinos acesos, que carrega sacos cheios de nada, mas muitas memórias de ti.
Pouso nas ondas do mar, que num bailado de sussurros navega como bafos carinhosos.
É frágil eu sei, mas tem feitiços escondidos, tem magia das nossas vidas e muito amor no convés.
Neste mediterrâneo de carinhos, navega para conquistas sem espasmos dos prisioneiros, movido pelos gritos dos novos ventos náuticos.
O mar da esperança, a cascata de milagres, as luzes da ternura, os musicais da alma, os gemidos das tuas expressões, navegam lado a lado com as saudades quentes.
Respira orgulho este barquinho e espelha nas águas as sombras dos teus seios, os impulsos febris dos beijos nos teus lábios carnudos e a secura da minha boca.
Leva com ele, o desejo da minha alma em ser tateada no seu íntimo pela tua enlouquecida e transporta a síndrome dos sonhos de amar.
Respiro, orgulhos com ele a rasgar o mar de peito aberto. Estou quase a perde-lo de vista, não pelos nevoeiros, mas pelas cortinas de fumo dos fogos de artifício do arco iris.
Isto arrepia os pensamentos e faz sorrir o ego com cantigas.
Um simples papel de guardanapo, que na sua liberdade das emoções liberta a surdez de sentimentos e que me deixa feliz…

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