Batismo do desconfinamento…

Batismo do desconfinamento…

Finalmente vão-se abrindo as janelas do isolamento e carrego novas energias inspiradoras.
No remanso do íntimo, pego numa tela impregnada com o perfume das deusas, os pincéis sagrados, a tinta com as cores das borboletas e sento-me para pintar a tua nudez.
Ainda vens muito longe, mas sinto os passos da tua doce alma a precisar de ser resgatada. Trazes a mochila carregada pelos piropos da cegueira dos homens e vens atraída pelo mistério do chamamento. Entretanto, mandei decorar os portões dourados com flores, velas e pombas brancas.
Bates à porta e ouço os sopros do teu coração, de espírito arrojado, com a emotividade disfarçada na timidez, pelo nervosismo contido.
A entrada no Planeta Azul é épica, o rufar dos tambores, contrastam com os ecos silenciosos da imensidão do palácio de cristal. Não precisas de máscara, aqui tudo é desinfetado com o orgasmo das virgens.
Entras coberta pela brancura do vestido, toda desnudada por baixo, com o sorriso contagiante, numa simplicidade invulgar, o olhar carente, transporta um brilho de expetativas sem pudores e dentro do peito o armário com as gavetas abertas a novos sentimentos.
Rasgo o vestido, ficas toda nua e cada anjo representante do céu, do paraíso e do inferno, lê a tábua dos mandamentos, enquanto arrepias de emoção.
Pelo cálice provas o vinho feito de uvas divinas, de respiração trepidante, inicias a caminhada pelo trilho de pétalas de rosas vermelhas, ladeado com velas acesas até ao altar do batismo. No percurso a orquestra de anjinhos tocam arpa, a magia acontece, deixas pegadas da simplicidade, irradias o dom de encantar, crias desejo e provocas ereções nos meninos do coro. Segura de ti, acreditas nos teus impulsos selvagens, nos pensamentos famintos de viver e sobes o pedestal num erotismo dançante, a gingar o traseiro.
Rendido ao teu ego cristalino, com idolatria escrevo no grande livro, poemas de cortesia a cores e ficas batizada como a deusa da sensualidade (deusa Freya). Deitada no altar, beijo os pés, os lábios, toco o aveludado dos seios ao rubro, que são o trampolim para atiçar perversões eróticas futuras. De rosto angelical, olhos revirados que falam prazer, és combustível que arde, num puzzle de emoções e lambo a epiderme a escavar trincheiras no contorno de cada poro com poesias na saliva.
Inebriada, na cerimónia como uma sonâmbula acordada, navegas nas homilias, inundas tudo com o sabor a mel das vibrações vaginais e deixas o Criador imolado em tesão.
És regada num banho purificador com as setas do cupido, apagas as memórias passadas e ganhas coragem para amar.
Terminado o cerimonial, és encaminhada para o repouso nos aposentos, sabes que nunca mais sairás deste mundo fantasioso, mas nada acontece por acaso e adormeces a suspirar suores de penetrações sem tabus no silêncio.
Ainda agora entraste, de asas caídas, oprimidas, mas que serão abertas pela vontade louca de voar na felicidade dos desejos e apenas foste, batizada do desconfinamento.

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