Conversar com o ego…

Conversar com o ego…

Sinto-me traído pela insegurança, pelos fantasmas do passado, que não deixam dormir e fico feito palerma a contar carneiros.
Estranho esta sensação de estar abraçado pela multidão, mas sozinho e sem conseguir calar os silêncios.
Até a imaginação é cortada pela guilhotina, com os sonhos a queimarem do nada e os desejos carregados de pó, que envolvem a alma nua pelo cheiro a mofo.
Preciso de abrir o cofre da mente, conversar com o ego, sentir as palavras a serem expressas pelos profundos sentimentos e perceber a razão desta inconstância dos pensamentos.
Abro a mala, onde tenho escondido todos os segredos, é nela que guardo os egos mascarados de frágeis porcelanas e cujas bocas caladas falam apenas comigo.
Sincronizo a respiração com os ponteiros do relógio, entro em diálogo com cada uma delas e faço o raio-x dos soluços entalados no espírito.
Talvez seja um crente no abstrato, mas preciso de escutar o que diz a silhueta do coração.  
Alterno cada uma das máscaras, falam comigo aos gritos na rádio e a minha voz rasteja pelas paredes, como se fossem um deserto de terra queimada pelas poeiras.
Cada uma exprime as suas perturbações:
- Andas sem discernimento na alma e o corpo fica esquecido.
- Não tentes enganar a vida como se fosses imortal, mas acredita que ainda viverás a velhice.
- Os arrepios que sentes nas sombras são gritos da goela dum ogre faminto pelo confinamento.
- Não partas cascalho nas rotundas da ansiedade e deixa de ouvir os vómitos do medo do íntimo.
- Devias quebrar o espelho que reflete desabafos e lágrimas que desembrulham simplesmente amarguras.
Atento ao que ouço, vou deixando cair uma a uma, ficam como pegadas na estrada, para mais tarde cada uma das musas do poeta, poderem encontrá-las e quem sabe conversarem comigo.
Atordoado pelo que escuto, tenho um bloqueio momentâneo, levo um enorme abanão e um grande estalo, pelo pêndulo da razão.
Afinal o buraco negro, era falta de conversar com alguém e nada melhor que conversar com o ego.

Respeita o direito de autor.
Desejamos sentir…
25 de Setembro, 2019
Diferenças iguais…
14 de Maio, 2024
Simplesmente preciso…
02 de Novembro, 2018