Desejas ser possuída...

Desejas ser possuída...

Faz tempo que vivo refugiado neste planeta azul, longe da escuridão das noites, das lavas da malvadez. Não sinto saudades, nunca fui homem delas, mas sim um emotivo no presente e um faminto do futuro.
Este é um mundo diferente nas rotinas, nas emoções das rezas ao belo ser mulher, toda ela encarnada de pureza divina. Aqui a mulher é uma deusa das deusas, não são sentenciados os seus pecados, nem são castigadas pelo prazer dos animais sem escrúpulos.
Vivo para ti neste recanto onde mastigo flores com o teu sabor, mas também onde palmilho as montanhas russas em viagens loucas.
É hora de os carteiros chegarem vestidos de anjos do céu, do paraíso e do inferno.
O anjo divino deixa as cartas do céu, onde o perfume delas são bafos de amor e de coragem de amar.
O anjo de papel traz as cartas do paraíso, elas têm sombras, mas a, cores com suspiros e por vezes ardências improváveis.
Respondo a todas com ruídos filtrados, com homilias de respeito, mas também com resvalo de erotismo exorbitantes.
Na forma aleatória da roleta, recai a leitura sobre as cartas que vociferam vozes de Lúcifer.
Trazem fogo do dragão ardente, são escritas em acendalhas pelas canetas de gasolina e os envelopes impregnados de luxúria.
Sentado no trono jubiloso e vestido com os trajes da malícia, abro a primeira carta:
“Meu criador, mestre das orgias. Abri a janela do quarto e fui banhada no lado vulcânico por chuvas de arrepios. Ouço as tuas palavras, fico cega na lucidez e sinto a tua língua a patinar a pele. Cada pensamento são acenos para os poros ficarem em chamas e sinto desejo da tua devassa no corpo, como se fosses mil homens viris. Quero sentir muito mais que este tesão mental que sufoca as zonas erógenas e que me deixa em brasa. Quero sentir o ardor da tua língua urticária a tanger o clitóris. Quero tatuar no corpo os mandamentos fora da lei, lamber o teu veneno e gemer nas tuas palavras de ordem. Serei a tua cobaia dos prazeres e suplicarei submissões até sentir o corpo alienado pela dor e prazer na cloaca. Não quero ser apenas esta tocadora de orgasmos viciada, mas sim o teu bebedouro dos gáudios, até sentir que caíste na boémia. Escrevo esta carta de joelhos prostrada na ânsia de ser a possuída”.
Almas que tentam saltar a vedação deste universo fantástico e que sabem que depois de entrar, são batizadas pelo divino na entrega de corpo e alma.
 
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