Doçuras ou travessuras…

Doçuras ou travessuras…

O silêncio é tão profundo que se torna intranquilo com os ecos das vozes dos espíritos que vagueiam por cima das lápides no cemitério. A lua está enorme e espelha reflexos de bruxas voadoras nas vassouras, os esqueletos arrastam-se pelo chão com aranhas a trepar pelas tíbias, tudo fantasmagórico próprio da noite de Halloween. 
Ainda me lembro da noite do ano anterior onde mascarado a rigor bati na porta da vizinha e disse: doçuras ou travessuras. Ficaste surpreendida e sem jeito, coraste, mas com classe respondeste: doçuras. Fui empanturrado por uma fábrica de guloseimas que cobriam a mesa da sala e vim para casa com o sabor doce amargo, pois desejava outra resposta.
A partir desse dia senti que a tua forma de olhar para mim, mudou, mais exposta fisicamente e insinuante na sensualidade, diria ameaçadora sempre que nos cruzamos.
Hoje li todas as transcrições das crenças e preparei-me a rigor para semear tradições Celtas.
Atravesso a rua e a tua casa é um cenário digno da noite festiva. Os morcegos voam em redor do telhado e através deles consigo ver o teu íntimo, o jardim decorado com abóboras que simbolizam fertilidade e sabedoria e dentro delas ardem velas que iluminam o caminho para o meu espírito.
Bato à porta e sou recebido por festivais provocadores, botas altas, uma blusa cuja transparência deixa a nu a desavergonhada lingerie preta e um olhar intenso digno de momentos íntimos.
Tento desvendar o segredo acolhedor e soletro: doces ou travessuras?
A tua boca fala mudez, apenas gesticulas para te acompanhar e sigo os teus passos com o aquecimento global a invadir-me. Abres a porta do quarto e fico boquiaberto, um cenário vivo iluminado pela cor roxa, os rostos das abóboras nas sobras, o gato preto que sai a miar e na cabeceira da cama, maças perfiladas como deusas do amor.
Os teus lábios parecem um pote açucarado e a resposta finalmente surge como uma proposta atrevida: travessuras!
Abri o meu espírito nudista e obstinado escalo o teu corpo com uma enorme afetividade carente e ligas as lanternas dos pecados.
Efusivos deixamos promiscuir os prazeres carnais. Os calafrios dos lábios, o trincar de orelhas, a imponência dos seios com os mamilos ardentes, as línguas a fazerem tranças da saliva até secarem as bocas e as tesões animalescas rugem estrondosamente.
Tudo são diabruras nestes bónus de gozo, sou escravizado até ao osso nas mais loucas fantasias dentro das tuas portas da ilusão.
Adorações de pandemónios corporais que culminam com orgasmos que inundam os pântanos assombrosos carregados de nevoeiro e uivos aterrorizadores das travessuras.

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