Exultação das palavras…

Exultação das palavras…

Acordei frio, com a chuva a bater forte nos vidros, sinais do outono a esfriar os dias e a escurecer os ânimos.
Sempre detestei o tempo álgido, as peles ficam encarquilhadas e a mente esmorecida, pelo que aumenta a premência de escrever para acalmar a ansiedade escondida.
Os pintores gladiam os pincéis através das cores, no abstracionismo das pinturas e conseguem recriar mil perceções no intelecto dos apreciadores das obras de arte. 
Não sei pintar, apenas faço uns rascunhos sombrios com lápis de carvão, pelo que prefiro o jogo das letras e com elas, construir puzzles de ardores para o teu doce coração.
Com o corpo gélido e a alma angustiada, vou deixar a língua afiada, soltar silabas desenfreadas de corpo e alma.
Sou um sonhador incurável, impulsivo, tenho o coração perto da boca e pretendo matar as tuas mágoas, mesmo as mais profundas, dividindo cumplicidades. Congratulo-me pela gratidão, transbordo emoções sinceras e canto hinos de glamour à tua alma. Não consigo ser o copo meio cheio ou meio vazio, transvaso bálsamos de excitações, através do instinto criativo e induzo ímpetos intensos nos contos eróticos. Mesmo sem pudores, nem decências, com perversões, ou amores de perdição, sou um livro aberto. Entro nos labirintos das luxúrias, em fantasias iludidas pela mente, arrastando atrás e mim quem ama as labaredas da esperança e se alimenta do prazer.
É para ti, deusa das deusas, mulher romântica e sonhadora, que escrevo sentado na incubadora do amor e quando pegas num livro meu, é como abrires a caixa de pandora. Entras numa bolha de sensações únicas, arrepiantes, sentes-te envolta numa teia do aranhiço e fascinada, amas ler-me. Enquanto lês, fervilhas em lume brando para novas esperanças de felicidade. Cada página que esfolheias, a luminosidade das minhas frases, despertam o vulcão adormecido, enxagua as lágrimas da tristeza e faz-te lutar por sorrisos exuberantes. De capítulo em capítulo, sinto a tua intimidade corada a espreitar e consegues, com a timidez, desabrochar as flores mais perfumadas nos jardins das borboletas.
Em cada linha descrita, sou eu, um demónio escondido em carícias (in)decentes, que, pela eloquência de cada parágrafo, abafa-te os soluços da agonia e acende o rastilho dos desejos mais obscenos.
Leres-me é como entrares no elevador dos pecados, parares no sanatório do inferno, mergulhares nos rios da vergonha e saíres aplaudida numa cama flutuante, como uma enamorada viciada em excentricidades.
Amo conhecer os vazios dos íntimos, desvendar os silêncios dos ruídos silenciosos e transformar a luz da escuridão em tochas de luminescência.   
Quando estás sem norte nem sul, com a bússola avariada, com os ponteiros da euforia encravados, como leitora absorves e retratas sentimentos, sentindo-te uma adolescente, com a ambição enérgica de seres possuída e amada.
Quando me lês, mascarada de paixões, com a ânsia de abraçar o poeta, acreditas na força do ego e sabes que deixo sempre a porta entreaberta pela exultação das palavras. 
 
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