Fantasiar em palavras...

Fantasiar em palavras...

Sinto que ultimamente tenho viajado nos jardins do tempo, a procurar amores perdidos e euforias camufladas.
Dizem que o florir da primavera, tem um poder intenso sobre o corpo e a mente, de tal forma que estimula em nós novas energias e ânsias de inúmeras experiências fantasiosas. Talvez por isso me sinta um parolo atarantado, com as mãos suadas do calor do momento e dentro da cabeça muita confusão das confusões.
Sou perfeitamente imperfeito, mortal como todos os homens e, portanto, preciso recomeçar outros desvarios e sair deste caos de interrogações estranhas.
Espreito no armário do quarto, a ver se existem fantasmas escondidos, dou sorrisos safados ao espelho e início um monólogo com as paredes. Estão pintadas a branco-nuvem, com os tetos de branco imaculado, a abraçarem as sombras da minha voz, mas serão ela(e)s a minha companhia neste reflexo de pensamentos escondidos. Embora, nesta solidão momentânea, preferisse a tua presença seminua, com olhares doces de tentação e pronta a jogar jogos de safados em enredos de submissão.
Quero ser a faúlha que incendeia a pradaria, a gasolina que devora com labaredas o palheiro seco, o fósforo que inicia a chama do desejo ou o explosivo que implode a obscenidade.
Não estás presente, apenas perceciono a silhueta da sensualidade, onde sobressai a delicadeza dos seios, as ancas e o traseiro delineado. É como se fosses uma pintura rupestre abstrata, mas que sorri e transmite as tentações que cintilam nos arrepios da epiderme. Nunca vou viver dos silêncios, embora deseje abafar a tua voz com beijos, nem quero esquecer-me de ti, mas sim perder o juízo e fabricar contigo sonhos pecadores.
Nunca serei o rei Herodes, nem o poeta bíblico das infidelidades, pois nunca vivi alimentado de hipocrisias, porque questiono diariamente o inquestionável.
Tenho as emoções enroladas na alma, a pele grudada com os ardores do tesão e nesta ventania intensa dos pensamentos do subconsciente, ganho forças hercúleas até conseguir seduzir a amante do diabo.
Este quarto, não pode ser a masmorra prisioneira das minhas falinhas mansas, sei que tenho de morder a língua, mas vou mastigar malaguetas, sair desta tombola giratória das preocupações sem nexo, para dar asas à linguagem desinibida e fantasiar em palavras.
 
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