Fogo através da janela…

Ultimamente, as sextas-feiras tem sido loucas e provocantes pela vizinha atrevida. Hoje, ainda está a nascer o sol e já estou sentado na poltrona dos prazeres com ânsia de espreitar na tua janela, que tem sido uma genuína bíblia do diabo.
As lamparinas estão acesas, ouço os passos como vozes que aleijam e a luz da manhã invade num silêncio estridente a escuridão da sala.
Tens noção que espio todos os movimentos vigorosos que recriam doideiras, pois já enviei várias mensagens em aviões de papel.
A brutalidade do volume da música promete muita sensualidade. Tesuda, rompes a sala em lingerie preta, tacões altos, de cabelos libertos, o rabo firme e no olhar carregas uma vontade de congelar o inferno.
Sentado, descalço até ao pescoço, de alma algemada, com a íris palpitante, o corpo satânico, sinto-me preparado para ser um vampiro sanguinário.
És uma maléfica criatura na forma como acicatas a observância do teu corpo que é uma ementa para canibais. Esmerada em rituais indecentes, pelos movimentos estonteantes, escandalosos, reinventas verdadeiros pecados vestidos de santos preparados para o apocalipse.
Super carente, sinto-me um toninho parolo, bloqueado numa cerca elétrica, com os pés dormentes, os dentes a ranger, a língua esfarrapada a roçar o céu da boca seca e os miolos espicaçados com vontade de cortar os pulsos pelo bisturi.
Como criadora de fantasias, não páras, na devoção corporal à avassaladora dança erótica, com imensa rebeldia sexual do traseiro pornográfico e as pernas que se cruzam e descruzam no sofá.
O vitral são telas impregnadas de rastilhos para este vândalo esgazeado no cio. Em posições cada vez mais irrequietas, fico corroído no cérebro e conflagração na pele. Cravo as unhas no sofá, tateio com carícias a epiderme empapada de baba da saliva, que até confundo a velocidade com gasolina.
Tu, de corpo retorcido contra o espelho, a deslizar pela parede abaixo, a rebolar no soalho como uma cobra venenosa, insinuas heresias coreográficas sexuais.
Trinco os ossos dos dedos, abraço os órgãos genitais, o sangue lépido a bombear, as moléculas jubilam até libertarem fumo e fica no ar um enorme cheiro a borracha queimada. São as vozes insanas a vibrar no encéfalo, deste animal que vomita gemidos do prazer, como um totó desorientado.
Encostada aos vidros, endiabrada, escaldante, vulcânica, fazes sentir os odores da excitação a esvoaçarem entre as janelas, como línguas voadoras e ouço o suor da vagina na corrida a possíveis orgasmos.
A união de pecados, faz o coração galopar em bolas de fogo, o pulsar, o latejar do pénis, que chacino sem misericórdia com castigos nas ereções de forma enérgica com a mão a esganar o ganso.  
Impiedosa na vontade de imolar o Criador de desejos, atiraste para o soalho, abres, fechas as pernas e ofereces as nádegas com agilidade a gritar blasfémias.
É como se estivesse a levar com uma chuvada de pedras no corpo e a imaginação compra todos os bilhetes ao vendedor de sonhos. Agarrado à histeria dos espermatozoides, entro num carrossel de masturbações infindáveis.
Os suspiros estapafúrdios esbatem-se com as ejaculações explosivas de sémen contra as vidraças e embaciam a judiaria do fogo através da janela.

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