Recordações de mim...
17 de Outubro, 2024
O outono chegou e com ele a porta fica entreaberta para o inverno, é um período que esbate a luz do meu íntimo. Nestas duas estações do ano, tento desviar ideias, evito escutar os silêncios mórbidos e os sinais dos novos tempos. Vivemos uma época de águas movediças, são perigosas, possuem overdoses de ódios e tem muitos poderosos em reuniões de bastidores a brincarem com o fogo e com as vidas alheias.
Mas vou passar uma esponja e apagar por agora esses pensamentos, prefiro escrever memórias pretéritas.
Ainda sinto o cheio a borracha queimada, os lábios mordidos e acabo sempre a roer as unhas. Mas prefiro esses sentimentos, mesmo com as mãos congeladas, porque sabe bem recordar os tempos que caia nas teias de aranha (cama) das tarântulas (mulheres), com a identidade perdida e lutava nos lençóis como um alpinista a escalar montanhas.
A estrada da minha vida, é de muitos capítulos, com vários anos e continua iluminada pelo farol do amor. É verdade, que também existem fantasmas do passado, atravessei desertos, como um camelo, mordido por cães raivosos, mas nunca desisti até encontrar uma mulher atraente para uma nova paixão. Cheguei a bater mal da mona, com a alma entregue ao diabo, com o ego transformado num bairro em ruínas e soltei muitas lágrimas pelo rosto coberto de cicatrizes do sofrimento.
Não quero recordar esses momentos!
Hoje, ainda assobio ao vento, amores antigos, consigo escutar alguns ruídos perturbadores, que me criam decisões difusas, mas acabo por relaxar a tocar nas teclas do piano.
Prefiro relembrar as correrias atrás das atrações físicas, das cócegas no estômago, pelas mulheres que faziam de mim refém do amor.
Era um “moleque” assanhado, com as baterias carregadas, sempre pronto a derreter o gelo. Não tinha, olhar fanático, era doce e malicioso, ficava cego com a tentação feminina, a mente até podia proibir, mas o corpo desobedecia.
Os sonos eram intranquilos, a garganta ficava rouca de tanto gritar ciúmes incontidos e nas noites, fazia touradas na ilha dos pecados santos.
Atualmente, ainda faço filmes na cabeça, sinto clarões de fogo a passar nos pensamentos, são as chamas que ainda consomem o corpo em lume brando e as emoções que arrepiam o ego. Continuo a ser um contorcionista de fantasias, um criador de ilusões, sempre em busca dos sonhos, mas a ilha converteu-se num campo de girassóis, onde eles se abrem de felicidade ao reverem as recordações de mim.
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