Ilusão do infinito...

Ilusão do infinito...

A humanidade transpôs há muito tempo a idade da pedra, até o período em que se inventou a roda, mas hoje assistimos à saturação dos incomodados por nada. Todos almejamos viajar neste mundo dos vivos, como se ele fosse o paraíso e propiciasse os instantes de felicidade apenas pelos sorrisos. Mas os tempos são tenebrosos para os que caminham na maratona da vida. Igualmente para os poetas como eu, que dou muitas vezes comigo a escrever no deserto poemas gravados no cérebro.
Como um pássaro livre, não sei se conseguirei ultrapassar a porta do inferno e voar feliz pelo céu. Para ser sincero nem sei para onde caminho, apenas vislumbro ao longe a vontade de refletir sobre tudo o que me rodeia.
Nem perceção tenho se está frio, se faz calor, mas sigo uma voz sobrenatural que me chama para o vazio.
Aqui estou nos rochedos, a enfrentar as ondas do mar, carregadas de ruídos irritantes duma discoteca vazia. Consigo ouvir as gargalhadas das hienas como se estivessem a aplaudir o genocídio humano. Neste orvalho do norte, com uma tosse estranha, que cansa mais que trabalhos forçados, sinto a alma a entrar numa bolha de delírios e perscruto a grandeza dos silêncios causados pela ventania. São novos ventos que tomaram conta de mim e que tentam apagar o pavio da vela da esperança.
Estranho, serão provas de vida? Estarei num abismo a jogar cartas com o baralho dos pecados, ou a tentar pintar de vermelho o cinzento que me circunda?
As ondas batem com força nos rochedos, são bisontes enfurecidos, chego a ser atingido pela água salgada, enquanto ao longe o salvador nadador se afoga. Existem crocodilos esfomeados, com desejos de morte tatuados nos dentes e pressentem o cheiro da carne. Enquanto inalo os odores do plasma dos cadáveres arrepiados, provocados pelos malfeitores furtivos dos conflitos, esforço-me em conter as lágrimas de comoção. Sem a máscara do medo, tento descravar os pregos do peito, fazer renascer das cinzas os extintos dinossauros, mas o bedum carnívoro da sociedade selvagem, arrebenta o dique das lágrimas que se esvaem pela maré. As vozes dos santos estão sem forças, as deusas do cio vivem sem esperança de serem devoradas pelos homens e até a princesa está feliz pelo rei finalmente falecer.
Passamos uma tormenta na humanidade, fomos engolidos por uma pandemia dolorosa, agora pelas guerras sem fim e que nos deixa de olhares gelados.
Quando a partilha e o amor deviam prevalecer como dons divinos, somos espezinhados em cada esquina até à morte pela ganância e malvadez dos amigos da onça.
Podem zoar facas afiadas, os vulcões continuarem furiosos em erupção, os diabos assanhados estilhaçarem os cálices do bem, os trovões gladiarem-se com os relâmpagos, que lutarei para envelhecer até à invalidez total.
Mesmo exânime, mantenho na alma as sirenes de alerta ligadas, o corpo ainda respira pelo bombear dum bom coração e que faz correr nas veias os sonhos dum louco. Apaixonado pela vida em harmonia e concórdia, aqui estou a arrebentar as goelas à ilusão do infinito.
 
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