Laços de ternura...

Laços de ternura...

Uma vida inteira unida pelo amor, uma história que dava para escrever um livro com milhões de capítulos infinitos. Viveram num jardim do paraíso, como uns sortudos felizes, que desde muito cedo na adolescência trincaram a maçã do pecado e foram apanhados no radar do amor.
Uma relação amorosa, selada com pompa e circunstância, quando trocaram os anéis de rubi e pronunciaram os votos, que morreriam um pelo outro até à imortalidade sem fim.
Sofreram amarguras na viagem da vida, com várias lágrimas derramadas, com dores sofridas, nos momentos mais terríveis, pelo cancro que se abateu sobre os dois em simultâneo.
Nem isso derrubou o hino da felicidade, nem a caminhada em comunhão de mãos dadas e os sentimentos partilhados. Os postigos estavam sempre abertos aos sorrisos rasgados e à cegueira dos corações prontos a continuarem os sonhos emparelhados.
Dois apaixonados acordados, em overdoses de beijos épicos da paixão total, sem limites, que sopravam entre os seus corações.
As palavras entre eles eram fogueiras acesas de prazeres, poesias clamorosas às cores que derretiam como manteiga e aplaudiam arrepios no íntimo. Os corpos de ambos já tinham tatuagens de hipnoses de prosas felizes, atiçadas pelos desejos e soletradas pelos orgasmos mútuos na cama.
Entre eles, os olhares falavam, nunca tinham uma resposta vazia e os suores eram magia entranhada dos abraços.
Tinham as chagas do tempo bem cravadas nas epidermes, ainda este ano faziam, noventa e cinco anos cada um. Já não chegam a fazer porque o silêncio da morte, levou-os para a vida eterna.
A pandemia é cruel, infeciona de forma aleatória as vítimas e sufoca até à morte.
Viveram juntos laços de ternura, numa harmonia a dois, durante setenta e cinco anos e até no momento fatídico, as almas ficaram abraçadas eternamente pela observância de Deus.

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