Livro das loucuras…

Livro das loucuras…

Sempre foste uma deusa especial, uma doce mulher que entrou neste mundo mágico não pela excelsitude da beleza, mas essencialmente pelo requinte do mais ínfimo pormenor da sensibilidade feminina.
Apanhaste uma fresta aberta e entraste como um raio de luz e por onde passas deixas sempre um rasto luminoso de amor.
És quase uma alma gémea, na cumplicidade das confissões e pela forma como sentes o estado de espírito do Criador. Sentes na carne a dor e a escuridão na alma quando ele não está bem, é como se fosse em ti, própria.
Por isso, apareceste à porta do meu quarto e sabes que nem precisas de senha de entrada.
Bastou olhares para mim, que descodificaste logo as raízes dos meus pensamentos e sentiste como a alma está penada. Realmente ando esmorecido, o momento é de enorme desgaste emocional, um cansaço psicológico que se abateu no peito.
De olhar vulcânico, não vens só, trazes contigo uma garrafa de champanhe e o livro das loucuras com as páginas todas em branco a precisarem de serem preenchidas.
Nem precisas falar, vi-te e senti logo que vens para iluminar o ego do Criador, para subir comigo o escadório da paixão.
Vestida de negro, o teu corpo é uma porta aberta à sedução, uma sinfonia poética, com o erotismo estampado no olhar encantador de serpentes.
Entras, soltas palavrões que queimam como labaredas incendiárias, no teu redor formam-se redemoinhos alucinantes e deixas um trilho de bolas de fogo.
De braços abertos, esmagamos os corpos em abraços carentes, afogamos os lábios caramelizados em castigos de beijos e impregnas a pele com veneno maquiavélico.
- Sou o vento que navega na tua pele, a devoradora da carne e o alimento da tua alma e vim para ressuscitar o Criador!
Fazes rasgar sorrisos no rosto.
O abraço é selvagem, sinto as unhas a cortar como um bisturi, uma leoa faminta e toco as tuas costas, como se a espinha fossem teclas dum piano.
Enroscas como uma serpente, uma enguia escorregadia, trocamos sussurros de amor e caímos nos lençóis como monstros vorazes.
Os estalidos de beijos, os grunhidos, os estímulos frenéticos nas peles suadas, deixam as nossas silhuetas pasmadas no espelho e os silêncios sagrados escondidos nos armários.
Os calores são arrepiantes, os beijos apertados, as ternuras românticas e os gatilhos do desejo sexual explodem a incubadora de excitações. As íris focam-se mutuamente, como piscadelas cintilantes, falam num sapateado de línguas e com requinte exortas para seres invadida na intimidade.
Com as nádegas arrebitadas, o grelo latejante no prepúcio, até o pénis escorregar profundamente pelas secreções vaginais. Uma luz de fogo invade o quarto, ilumina com requinte a nossa fluidez física, os rodopios carnais carregam baterias dos sonhos, enquanto no cimo da torre canta o cuco feliz.
Com a fornalha ardente pelas safadezas, soltas odores salgados dos rios de orgasmos, acendes tochas com os berros e engolimos o bicho da maça do pecado.
Transpirados, brindamos, bebemos o champanhe e escrevemos com a tinta das libidos as nossas excentricidades no livro das loucuras.

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