Lugares perdidos...

Lugares perdidos...

Vivemos como dois malucos desvairados, com transpirações até à cueca e a tua boquinha de cereja, espelhava sorrisos abertos à disposição de amar. Comunicávamos até com sinais de fumo, éramos dois apaixonados corados, agarrados ao amor e julgávamos que ele era maduro, mas há paixões imperfeitas na perfeição.
Era um babão babado, que sonhava todos os dias com carneirinhos felizes a pular a cerca. Ainda me lembro quando estávamos deitados na cama, com o teu rabinho ao léu, abraçada a mim, a sussurrares ao ouvido como se fosse um ursinho de peluche.
Comungamos da energia dos gemidos em coro, dos corpos entrelaçados em instantes loucos, como se fossemos um barco desgovernado em direção às rochas, mas infelizmente o farol estava apagado e acabamos por desfazer a relação no embate.
Quiseste tornar os teus sonhos realidade e percebi que não cabia neles, mas tinhas a noção que tatuaste a minha vida.
Não existem culpas, nem desculpas, apenas feridas abertas na alma espezinhada e afastei-me de ti, preferindo viver como um urso na caverna a dormir o sono dos justos.
Nem tudo já passou, é difícil esquecer, mas acredito que o céu se abrirá ao brilho de uma nova estrela e nesse dia escreverei versos em branco no seu coração.
Na minha estupidez de idiota, por vezes vestido de peregrino descalço, mesmo com a boca seca, ainda grito palpites ao vento, como se fosse possível escutar os teus ecos.
Não posso olhar mais para trás, quero e preciso de viver o futuro, pois nunca naveguei na covardia e ainda não foram inventadas as pastilhas para a felicidade.
Os anos parecem séculos passados, sei que amei demais, confesso que ainda sinto ciúmes da cegueira, mas tento enganar os anjinhos, para eles não perceberem que a minha alma está um papel amarrotado.
Ainda sinto a língua áspera dos ósculos molhados, tenho falta das carícias diárias, mas a mala das lembranças está vazia e apenas restam retalhos da vida.
Para trás a nossa relação deixou apenas terra queimada e as memórias esfumam-se, embora os momentos únicos sejam eternos.
Hoje, nesta solidão, até os coiotes estão assustados ao ver-me com as saudades vincadas no rosto e a dançar com os lobos.
Todas as manhãs tento descrever no diário os beijos, não para fazer dele um plano macabro e muito menos para servir de absolvição dos pecados, mas para tentar recriar passagens secretas para novos sonhos húmidos e gritar à chama de tesão que ainda existem outros lugares perdidos.

Respeita os direitos de autor.
Memórias passadas, forças futuras…
09 de Fevereiro, 2020
Liberdade suspensa...
07 de Maio, 2020
Apenas palavras...
20 de Junho, 2024