Memórias coloridas...
27 de Janeiro, 2021
Pedem para ficar só, aqui estou no cantinho da frustração, com o pescoço rígido e o olhar perdido a ver o mar. Sinto-me dentro de uma bolha de sofredor, um trapo roto, castrado de sorrisos, a carregar um piano onde as teclas tocam apenas prosas de desgostos fatais.
Sinto ânsia de festejar, mesmo que sejam festejos sem nexo, mas que tenham a força de matar estes espasmos da gaguez da felicidade.
Lá fora está frio, a relva queimada pela geada da luz na escuridão e sentado no aconchego do lar, em frente ao computador, olho as labaredas da lareira, enquanto escrevo recordações para regozijar o ego.
No silêncio, fecho os olhos, abro o espírito e deixo fluir os dedos nas teclas e assassinar o descanso do animal.
O formigueiro das vibrações mentais, debita palavras como se fossem sismos de emoções passadas, da vida louca e dos entusiasmos inebriados de vícios. Talvez seja o esqueleto a falar, mascarado da folia, agora que usa a máscara do medo, ou quem sabe, a alma a vociferar pecados distantes ao boémio.
Podem ser simplesmente bate bocas, das noites de luar, dos desencontros amorosos entre o leão moribundo e o corpo hipnotizado.
A energia de outrora era brutal, procurava os corpos perfeitos, prontos a serem devorados, tudo sexo por atração e que deixava as hormonas a piruetar nas camas a ranger.
Um nuzinho desinibido, fazia do leito uma escada rolante, para preliminares românticos, nos vínculos amorosos com as amantes convictas.
As santas tinham de ser perfumadas, nunca com os aromas das gajas dos bordéis, mas que gostassem de apimentar o desejo com os brinquedos sexuais cheios de vida própria e soubessem viver no olho do furacão das loucuras da noite.
Tantas vezes o sofá foi o massagista dos músculos retorcidos, com os sinais da epiderme a transpirarem os odores ainda colados dos estímulos dos clitóris, as veias regadas a champanhe e o corpo a ressonar bebedeiras.
Tão bom babar salivas alheias, desfrutar dos prazeres nas posições de copulação e fazer das vaginas encharcadas de “nhanha” peganhenta o lavadouro da língua. Recordo cada boca gostosa, aberta a doces pecados, as vulvas esfaimadas pelas invasões sem perdão e os cús recetivos a novas aventuras dos espermatozoides.
Relembro segundo a segundo, os tempos de fodilhão convencido, sem confinamentos e que ainda assim, consegue deixar o pénis irrequieto com vontade de explodir jatos de adrenalina.
Hoje lentamente, espreitam as rugas para evocar as marcas do tempo, mas enquanto existir a deusa Mulher, existirá sempre um novo tiro de partida para recriar doideiras e na sua encantadora nudez, inspirar novos desafios para memórias coloridas.
Respeita os direitos de autor.
Respeita os direitos de autor.