Monólogo do pénis…

Monólogo do pénis…

Farto desta pandemia
Da distância social
Do confinamento
De estar dentro das cuecas
Dos isolamentos sexuais
Não nasci para ser castrado
Muito menos para descansar
Não quero estranhos sossegos
Preciso ouvir vozes femininas
Ando recolhido e perdido
Sinto-me um anão
Quero agigantar-me
Ser o monstro delicado
Ser ousado
Sentir o latejar
O pulsar do fluxo sanguíneo
Preciso de cavalgar
Ser cowboy sem cavalo
Preciso de pinchar
Voar no trampolim
Ficar sôfrego de tesão
Ó bocas sagradas
Ó seios empolgados
Ó vaginas na solidão
Ó rabos apertados
Escutai o ladrar deste cão
Carente, safado
Tesudo e no cio
Só escuto falinhas mansas
Saiam da privacidade perdida
Amor virtual não alimenta
Quero uma boca quente
Suculenta e insaciável
Louca, atrevida e profunda
Quero pincelar os lábios
Bailar na língua molhada
Preciso ser abocanhado
Ouvir gritos à toa
Quero uma língua húmida
Congregadora pelos lábios
Sôfrega e lambedora,
Bailar nela molhada
Quero seios arrebitados
Escalar e resvalar na pele
Viajar apertado no decote
Subir, descer e deslizar
Num vaivém desenfreado
Quero uma vagina ardente
Sentir o clitóris folião
Ser a acha da fogueira
Romper virgindades perdidas
Receber o vapor dos suores
Mergulhar nas profundezas
Espetar, duro e profundo
Tocar o útero
Até as trompas Falópio gemerem
Tomar banho nos orgasmos
Ser consumido pelo fogo
Apanhar escaldões no prepúcio
pelos lábios vaginais
Quero um rabo justinho
Com fome, pronto a rezar
A pecar de forma infame
Esbofetear as nádegas
Esforçar o esfíncter
Penetra-lo, até ceder
Deixa-lo estourado
Olha como estou, triste,
A tomar conta dos testículos
Apenas a fazer-lhes sombra
Como se fossem almas gémeas
Até os pelos estão despenteados
Gadelhudos e esbranquiçados
Usa-me, esmaga-me e esfarrapa-me
nem que seja entre as mãos
Não quero escorrer ferrugem
Apenas sémen, muito sémen
Põe os espermatozoides a saltitar
Como macacos à solta
Até soltarem urros animalescos
Sentir a pele a esticar
O corpo cavernoso
Ficar com a glande esfolada
Em ferida
E gritar, bem alto
Estou vivo!

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