Nasceu o menino (II)...

Nasceu o menino (II)...

Nas palhas deitadas, nas palhas, estendido. Caiu no berço do fruto desejado, de uma fusão ardente.
Não tem a estrela cadente, mas o olhar límpido e o corpo de presépio. Não vieram os reis magos, mas os elogios dos apreciadores babados contemplados pelo olhar da ternura, do carinho e do amor.
O primeiro choro é mordido pelo fascínio de uma nova luz, que caiu numa colmeia de adoração e lençóis de veludo.
Desde cedo gatinha nos sonhos e nos lábios carrega a silhueta dos mamilos maternos.
Capta emoções que fazem nascer e crescer sensações na alma e que serão o seu memorial de vida.
Em cada fase, cada degrau da sobrevivência, sempre uma fábrica de turbilhões com cascatas de suores nos desafios vencidos. Em cada janela, em cada postigo reinventa visões de magia nos desejos de um dia ter e sentir um mundo melhor, um planeta azul.
Comeu e cresceu com as sementes da honestidade, do carácter, da sinceridade, da dignidade e da bondade, sempre dadas na boca em cada garfada na pia do batismo pelos seus progenitores.
Na sua humildade desenha histórias de embalar, soletra contos com asas nos jardins proibidos e na deusa mulher, venera vibrações.
Tudo dialetos de amor na gestão de sentimentos deste batalhador sobrenatural.
Cresceu com a tranquilidade do mar, mas revolto em ondas da ira dos deuses e percorreu ilusões nos precipícios da desilusão.
Elegância espelhada no equilíbrio da clarividência, boémio afamado, desfruta da vida de corpo e alma, sempre um amante convicto.
Navega nos números que provocaram insónias desfocadas e sombras dos demónios e nos momentos de ansiedades descontroladas é nas palavras que ouve os silêncios nevrálgicos a rasgar a sua alma.
Sensível, romântico, sonhador, intensamente erótico de mente aberta, pincelou para toda a vida o coração de azul com a chama invencível do dragão.
Não tem montras da saudade, mas as forças do futuro, não lambe o passado, mas come esfomeado o futuro.
As portas do coração estão sempre abertas para repousar no sono tranquilizador do amor.
De tímido a audaz, de fatalista a ponderado, de impulsivo a emotivo, todas as vozes que o rodeiam são beijos encantados.
A sua frontalidade é um teatro aberto, com mistérios escondidos e em cada segundo tem um capítulo novo de sorrisos em novas amizades.
Não tem nenhuma varinha mágica, mas luta por um mundo puro e transparente com cisnes a nadar no lago da honestidade.
A miséria, a desigualdade, as lutas da maldade, as injustiças e a falta de humanidade, são o seu fontanário da comoção.
Em cada flor, em cada borboleta, em cada perfume, deixa-se embriagar nos sininhos do prazer e descreve com musicalidade o esplendor da beleza Mulher.
No sol, nas estrelas, na lua, as sombras da felicidade são sempre iluminadas pela luz do sorriso que germinou da sua existência, um pescador da esperança, um vendedor de sonhos na criação de desejos.
Vive apaixonado pela vida, porque é única!
Esse menino cresceu, esse menino, sou eu…

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