Navegar em ti...

Navegar em ti...

Nunca voo na saudade, mas vivo acorrentado às memórias.
Fui de férias, decretadas pela justiça dos poetas.
Cheguei amordaçado pelos gritos do silêncio e sôfrego de paixões.
Levei-te nos pensamentos, andei com a tua imagem tatuada na mente e trago-te no coração.
És a minha violinha, a minha deusa, a cabritinha brava de olhares sedutores.
Aluguei um barquinho e naveguei à tua procura.
Sem norte, sinto-me perdido no denso nevoeiro e num mar cercado de inimigos.
Navegador, conquistador de desafios, não desisto e navego na busca dos prazeres.
Os sonhos são portas, que tenho que ultrapassar e por ti salto barreiras inatingíveis.
Sou sangue quente, coração pulsante e tu és labaredas fumegantes que fazem arrepiar.
No barquinho, na solidão, dissipa-se o nevoeiro, caí a noite luar e pressinto um odor.
O cheiro inconfundível da essência do perfume da tua alma.
Ouço chamar, olho em redor, é a tua carne a chamar por mim.
Sorris e deixo-me entrelaçar no teu sorriso inspirador.
Com a cana na mão, revolto nas ondas do teu corpo, pesco num campo minado.
Com o teu atrevimento corado, queimas-me a língua e fazes-me engolir em seco.
Sou doce, mas assanhado fico perverso e só tu sabes despertar-me a virilidade demoníaca.
Os sentimentos são ardentes e fico a roer os sabugos.
Levanto a âncora, deito a bússola ao mar e navego sem limites.
O teu corpo é poesia e é nos poros que amo ler sílaba por sílaba.
Quero pescar cardumes de beijos atrás das tuas orelhas, até fazer ninhos de andorinha.
Sentir a liberdade de voar no amor, de abraçar o teu odor e arder no teu calor.
Navego no teu corpo, com o sangue na guelra e almejo beijar o teu umbigo.
Beijar cada contorno da epiderme, suada, molhada e iluminada pelas estrelas.
Os pensamentos são memórias da voracidade inacabada na tua absurda nudez.
Quero, desejo, continuar a navegar em ti…

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