O início está próximo (The beginning is near) …
11 de Fevereiro, 2022
Nem demos conta que a felicidade morava ao lado e andávamos sôfregos e ansiosos a ambicionar aquilo que não tínhamos, quando o que existia ao nosso redor era mais que suficiente para nossa satisfação.
Num ápice, tudo se transformou num mundo a preto e branco. Ainda tentaram criar arco-íris, mas foram fugazes atos de fé. A pandemia entrou como um glutão ávido de morte pelas portas da humanidade e mesmo confinados, fechados a sete chaves parecíamos zombies moribundos de óculos escuros.
Ficamos a falar sozinhos, a escutar desabafos da vida, a tentar pedalar sem luz as ideias para novas ilusões e assistimos assustadoramente à morbilidade em cada esquina.
Com olhares de medo, com incertezas no futuro, com os constantes avisos das entidades mundiais da saúde, mesmo assim, ainda existem os maluquinhos da mona, como alguns anónimos animados antivacinas.
A destruição de egos, o dilaceramento das almas, as solidões do íntimo tomaram conta dos nossos juízos tremelicantes, como se estivéssemos na fila para a morte silenciosa.
Faz dois anos que tudo começou, guardo sempre as lembranças, mas quando abro as gavetas dos armários só encontro memórias dos esqueletos. Quando escuto o vento, mesmo dos agrestes e tempestivos, escuto os sorrisos da alma a soprar palavras de esperança e deixam-me um palhaço animado.
Comidinhos do caco, nem sabemos como cumprimentar, ou abraçar as amizades e para quem sente falta de beijos no coração é como sentir o cutelo constantemente sobre a cabeça.
A moeda tem duas faces e a humanidade também, tanto amamos a liberdade que as nossas sílabas ficaram escondidas nas lágrimas que correm pelos rostos tristes.
Não quero continuar a nadar neste lago, deserto de instantes felizes, quero sonhar com as asas abertas num mundo novo, que se avizinha.
Os vulcões do íntimo podem andar adormecidos, mas surgem luzinhas de esperança do outro lado da barreira.
Subi a escada velha e espreitei o outro lado do muro, vejo clarões de estrelas brilhantes e a luz azulada do Planeta Azul. O paredão mesmo velho, sujo e feio, pintei nele: The beginning is near – O início está próximo.
Respeita os direitos de autor.
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