Perdido na distância...

Perdido na distância...

Vim a voar e parece que viajei na estrada dos meus passos, mas ultrapassei as fronteiras do nada.
Já passaram vários dias. Mas, hoje caminho nas pedras das calçadas desordenadas, intercaladas com as poeiras de terra barrenta e procuro o recanto para varrer os pensamentos.
Sento-me debaixo de uma árvore e ouço no bater do vento os seus suspiros. Vislumbro ao longe as águas escuras das margens do rio e no meu redor a musicalidade africana.
Eles, juntam-se como se fossem trilhos de cinzas no ar, de peles suadas ao ritmo frenético das cervejas e no mastigar dos amendoins e cajus.
Têm a musicalidade no sangue e vivem num mundo crente de felicidades, um contraste brutal com os reflexos dos meus espelhos profundos.
Aqui, o sol é abrasador e os cheiros intensos, ora nauseabundos, ora a aromas de café e odores dos lixos que formigam no chão.
Deixo-me meditar nas horas desencontradas pelos fusos horários definidos pela nossa separação e contemplo os quadros de memórias.
Pego num pedaço de papel e escrevo nele com as faíscas dos ruídos da minha alma.
Transcrever aqui tão longe de ti, serve de motor para o meu ego, uma libertação para as minhas carências dos teus beijos e das tuas carícias.
Ainda esta noite senti que estava crucificado na solidão da cama, um vazio sem explicação, com o corpo todo suado não pela tua habitual chama corporal, mas pelo calor tropical.
Sinto falta dos nossos jantares românticos, das tuas palavras aos soluços e do teu jeito de amar.
Escrevo como se fosse uma terapia suave, um refúgio da lonjura que nos separa e esta carta é o passaporte das barreiras ao amor.
Não uso caneta na escrita, apenas uma flauta mágica, em que os seus sons são o esbater dos teus sorrisos, dos teus gemidos na candidez dos prazeres.
A energia já a sinto no pulsar do coração, apenas criado pelos sentimentos pensantes, mas que faz foguear a minha pele.
Talvez estejas agora, também a pensar em mim, nos incêndios corporais que provoco em cada beijo traçado de saliva como se fossem as línguas de uma matilha. Deves sentir até desejo de abraçar a sombra do meu corpo no lugar vazio da nossa cama. De amarfanhar os lençóis entre os teus dedos como se estivesses a ser estocada pelos pecados escaldantes.
Cada frase, cada parágrafo são as vozes deste meu estado de espírito, são as luzes dos meus neurónios que desejam iluminar o mundo até chegar a ti.
Não te vejo, mas sinto o bafejar dos teus olhares profundos. Até os contornos dos teus lábios sussurram no meu pescoço mesmo aqui juntinho a mim.
Não são delírios corroídos de desejo, são as alminhas interiores que perdidas na distância sopram nas palavras.
 

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