Perfume flamejante…

Perfume flamejante…

Tudo parece mais calmo nesta aparente acalmia depois de semanas duras no desespero dos aterrorizantes incêndios e das desconsolações infringidas aos meus semelhantes.
Cá de cima vejo tudo como um contraste desolador, tudo na cor negra queimada de cinzentos encardidos pelos fumos destruidores, um contraste com o brilho do esplendor do meu Planeta Azul.
Não encontro semelhanças apenas inúmeras divergências e diferenças.
Os choros derramados das pessoas pelos entes queridos perdidos, pelos valores da vida que se foram em apenas poucos minutos de esperança, os rostos desfalecidos do combate inglório dos soldados da paz.
O teu mundo é feito de crueldades nas labaredas demolidoras pelo prazer da destruição, pela ganância dos negócios obscuros e lucrativos, pelas notícias interesseiras do sensacionalismo e invasoras das nossas privacidades.
Disputas sem fim que cravejam as almas sobreviventes, que dilaceram na morte os seres vivos mortais, que despojam o mundo do verde respirável dos aromas da natureza oxigenante e devastam num ápice os sonhos de uma criança.
Podemos e devemos todos comungar da dor alheia, oferendar donativos e presentes para tentar aliviar os sofrimentos dos bens supridos, mas nunca conseguiremos devolver a alegria aos corações dos que perduram.
No teu olhar destroçado vejo as linhas marcadas em teu rosto pelas lagrimas que não param de correr em tua pele coberta de cinzas propagadas.
Sinto teu coração sem alma, tuas forças caídas nos terrenos poeirentos que pisas. Teu interior vazio no denegrido sonho da vida, em que todo o teu esplendor ficou perdido nesta batalha cruel, neste fósforo vulcânico de lavas vorazes.  
Desnutrido no mais profundo amago e sensível nas amarguras agrestes das tuas agonias, simbolizo nesta oferenda irrisória, mas sentida do meu coração.
Uma pequena garrafa…
Eu sei que é nada, mesmo nada comparado com o que precisas, mas o que necessitas não se compra ou adquire, não se constrói nem se fabrica e nunca mais o conseguirás ter, apenas e só o poderás desejar.
Esta garrafa é apenas simbolizadora de ternuras e carinhos, é uma lâmpada fundida, mas que iluminará teu ego sempre que sentires o contrassenso do seu perfume ardente.
Contem labaredas, mas que incendeiam a alma de sonhos, dentro guarda as chamas abrasadoras que tornarão teu coração tórrido no amor pelos outros, tem um fogo urticante, mas que te fará sentir idolatrada e adorada por mim.
Quando estiveres na escuridão das memórias vividas, quando não conseguires controlar o propagar em teu pensamento dos ventos do terrorismo projetado do fogo, abre a garrafa e inala o seu perfume.
No meu mundo não se apaga as memorias, não se esquecem as tristezas pelos minutos de silencio ou pelas homenagens em comemorações de datas marcantes, mas sim pela abertura do coração ao seu semelhante.
É apenas uma pequena garrafa, mas o coração de cada um pode ser pequeno em tamanho, mas infinito no fazer sonhar e ilimitado na compaixão por ti.

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