Reflexos perdidos...
08 de Outubro, 2024
Já nem sei o que é o tempo de criança, onde as gaivotas bailavam com os bandos das andorinhas e coexistiam numa acalmia normal com os sorrisos fáceis de felicidade.
Os tempos hoje são outros, usam-se papeis arder, quando podiam ser preenchidos com palavras de esperança. Os gritos ao mundo, já não são gritos de amor, mas de dor, as setas do cupido foram substituídas pelos machados de guerra desenterrados dos vales do ódio.
Pobre humanidade que anda mascarada de facadas da falsidade, como se o Carnaval fosse todos os dias e não consegue entender que as amizades falsas são piores que coices de cavalos.
Porque nos estamos a transformar em humanos artificiais?
Não sou o profeta da desgraça, mas os reflexos são visíveis a olho nu, até os cães latem aos esqueletos com vida e nas corridas de caracóis, morrem todos asfixiados com a boca aberta.
Vivemos retratos cinzentos, em jogos de poder, com as montanhas em chamas e as imagens dos santos corados pela podridão escondida. Fazemos ouvidos moucos, assobiamos para o lado, mas em cada um dos lados existem espelhos que refletem com exatidão as vidas infelizes que brotam das crateras dos vulcões. Não adianta enxaguar as lágrimas, quando somos invadidos por mentiras, que esvoaçam como cinzas e batem forte, ferindo os tímpanos. Sugamos tudo até à última gota, não pagamos as dívidas pelas dádivas e bênçãos recebidas e acabamos perdidos nas aparências descuidadas.
De jeito algum quero ser o moço de recados, mas as cicatrizes da guerra, os estilhaços de morte, os dentes partidos, as cadeiras elétricas e muitas anormalidades quotidianas qualquer calhau sem olhos consegue enxergar. Não são só os fenómenos naturais, os polos a derreter e o resto do mundo arder, são também os corações negros, invadidos por malefícios nefastos, quando bastava simplesmente enchê-los de amor.
Os espelhos de tempo de criança não eram diferentes dos de hoje, sei que a idade não perdoa até do planeta terra, mas acho que as pessoas não sabem ler os sentimentos dos outros e por isso alimentam-se como abutres dos reflexos perdidos…
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