Os dias, mesmo de sol, tem sido de uma agonia infinita, com os sentimentos esfrangalhados e carregados de sombras sem luz. Parece que vives num suspense infinito, dentro de uma bolha de ausências com prazos ilimitados. Sentes-te um animal ferido, uma ursa à espera dum abraço numa noite do crepúsculo dos deuses, até virares loba, mas ele tarda em aparecer. Tens saudades da sedução de inocentes, dos lábios saciados pela saliva do desejo, de sentires o fervilhar da mente ousada quando danças ao som do tocador do Lúcifer. Fechas os olhos e no falatório dos silêncios com as tuas memórias, tentas despertar as fantasias selvagens vividas com o Criador, mas apenas perscrutas o frio de cão na alma.

Sabes que nunca falhei uma promessa, mesmo nos pactos de amor selados pintados pelo diabo e, portanto, entendes que tem ocasiões na vida que me sinto um compulsivo encurralado e que preciso de liberdade. Sempre idolatrei a tua beleza feminina, a alma doce e ainda tenho gravado na cabeça as tuas palavras de fogo nos momentos tórridos nos lençóis. Do nosso último encontro, trouxe dentro de mim o perfume da tua essência, os odores dos orgasmos guardados nas narinas, são eles o ar que respiro, bem como as palavras soletradas que ficaram tatuadas nos tímpanos.

- Só viste o lado de santinha, mas sou muito louca e putinh@.

Despedi-me apenas com um beijo lançado ao vento, produzido pelo murmúrio labial e com o juramento de que regressaria.

Não sabes, mas durante esta ausência, estive sempre a pisar as tuas pegadas com o coração e todas as tuas vontades insaciáveis na cama foram portas abertas para o caminho da esperança.

A noite cai e na tua intimidade sexual, sentes o estremecer do ego com a musicalidade da ponta dos dedos, a dedilhar o clitóris como um instrumento de orgasmos. Lá fora, a escuridão do céu é invadida por um esplendor azulado, corres à janela numa sofreguidão e vês a silhueta do Criador desenhada pelas estrelas. Ainda esfregas os olhos para verificar se estás a sonhar, mas a máscara inescrutável carregada de mistério é a prova viva do regresso do Criador.

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