Resfriado de amor...

Resfriado de amor...

Tudo estava pensado e planeado, mas o clima deu com o nada. É verão, mas os dias estão cinzentos, frios e molhados.
Era para ser um dia como outrora, em banhos de sol e mar, mas as ordens do São Pedro aos deuses, são de tempo desregulado. Dos céus cai esta chuva fina e fria.
Não viemos em vão e quisemos festejar nos reboliços dos sons das ondas do mar.
Neste mar onde sou feliz a amar e onde os teus beijos são hóstias de poemas.
Aqui a areia é o chão sagrado de muitos prazeres, onde bebemos e comungamos os afetos pelos olhares cúmplices da exaltação ao cupido.
Nos poros desta areia fina deixamos muitos suores. Aqui rebolamos com as tuas calcinhas caídas em disputas e gloriosas batalhas até a agitar orgasmos convulsivos.
Hoje chove, mas desejamos ser loucos como polvos entrelaçados na água salgada.
Quero deixar o teu corpo bagunçado de emoções e sentir o meu, escravo pelo teu encantamento.
É noite, mas vemos a luz com as lâmpadas da escuridão as silhuetas das sombras a cores e pinceladas pelas salivas arrepiantes.
Sentimos o mar adormecido, sem os ecos das tormentas dos espíritos das vidas perdidas em naufrágios, mas agitado no ímpeto da paixão.
As nossas mãos são cardápios de carícias neste encontro romântico, onde os nossos corações trocam palavras de surdez, sem amarras e com asas da felicidade.
Descalços e despidos neste vulcão de labaredas ardentes regadas pela chuva, desenhamos na areia o teatro dos nossos sonhos, com os corações a bailar em bicos de pés.
Desvendamos segredos a dois sem as algemas da vida, afogamos o corpo um, no outro com mergulhos nas almas partilhadas.
Encharcados e polvilhados pela areia colada na pele, respiramos maresias e que se transformam em transfusões de amor injetadas nas veias.
Uma imensidão no nosso redor como se tudo fosse nosso, onde os castelos de areia são feitos de sonhos e fantasias, onde sentimos e abraçamos o nosso laboratório dos embriões da esperança dos nossos filhos futuros.
Não sou o monstro nem tu a bela adormecida, mas dançamos a dois nos sonidos do luar e em cada beijo voamos com as asas das gaivotas.
Tu és uma serpente assanhada, eu o louco numa corrida desenfreada de galgos com o desejo de apanhar a presa.
Esbaforidos sem o tino da razão apanhamos um enorme resfriado, mas valeu a pena morrer por amor.    

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