Tarde te amei…
24 de Setembro, 2018
Desde pequena cedo abriste as asas de sedução, pela tua forma irreverente para a época.
Eras adolescente, mas com uma vivacidade de criações de outras dimensões e rapidamente em relação às outras quebraste as portas da gaiola, pois ambicionavas sempre tudo para ontem. Com tua beleza corporal fazias a noite parecer dia, pois o teu esplendor brilhava em cada traço dos sorrisos em teu rosto. Teu simples olhar pintava no céu todos os teus desejos e sonhos que te iam na alma. A tua própria sombra criava silhuetas a cores, como se fosses um verão arrepiadamente quente. Tua boca era carente de vida, de beijos apaixonados capazes de derreter os icebergues de qualquer homem. Quando passavas na calçada, não caminhavas, tu deslizavas como uma princesa numa pista de gelo, enquanto partias os pescoços dos sexos masculinos no deslumbramento de teu perfume.
Sempre foste uma mulher de janela escancarada às paixões que invadiam a tua via láctea do amor. Eras um furacão arrasador, uma balança desequilibrada sempre com o peso do nada ou o peso do tudo, uma predadora de corações. Tudo em ti era mágico e diferente, transportavas contigo a carroça dos sonhos, tinhas o dom de ter o caixote do glamour sempre em labaredas ardentes.
Lembro-me tão bem como se fosse hoje, a forma teimosa e persistente naquilo que almejavas, que fazia de ti a melhor aluna do liceu. Perfecionista, mordaz e sempre com o coração em chamas abrasadoras por mim.
Sempre que dirigias a mim, escondia meu olhar como se fosse um clandestino procurado, sentia meu corpo inquietante pela insegurança a todo o momento presente. Tudo fazia para não cruzar contigo, tu eras um sonho desorientador das minhas vontades e desejos nesse tempo. Tinha a vergonha estampada em cada poro do corpo, as feridas dos gozos dos colegas em sintonias musicais de escárnio. As tuas constantes declarações de amor, eram rugidos de leão que faziam estremecer as pernas, sentia uma comichão urticante em mim sempre que era abordado por ti. Teu amor era bem visível, sentia teu corpo despido em incêndios levianos, mas eu apenas queria o meu canto, os jogos de bola com os amigos. Cada dia que passava sentia cada vez mais as tuas pressões, os teus desejos vulcânicos a tua atração imperdível num amor possessivo por mim. Tolhido em formalidades e inibições não aguentei os constantes corares de meu rosto e fugi de tudo e de todos.
Mas teu rosto, teu olhar doce atrevido, teus lábios desenhados pelo esquadro da perfeição, teu corpo revigorante, nunca deixou de afugentar os meus calores. Durante estes anos fostes uma massa pegajosa que se alojou nos meus pensamentos, tua voz ainda rasteja a toda a hora nos meus tímpanos. Disso nunca consegui fugir, estiveste sempre agarrado a mim. Sei o quanto te amava, a loucura que fiz a troco de um comportamento encabulado das vozes retrógradas desse tempo.
Hoje em que a vida da paixão superou toda a mesquinhez, em que o espírito aberto triunfou dentro de mim, já não há nada a fazer. É tarde.
Teu coração abortou os amores do passado e virou as agulhas apaixonadas para outro homem.
Vejo-te com ele ao longe, mas sinto nos vossos olhares os fascínios de quem ama, os prémios de afetos e carinhos que cada um dá ao outro e os gritos de chamamento do vosso pequeno príncipe, o vosso tesouro nos seus primeiros passos tateantes.
A vida, os destinos, as decisões na maioria das vezes dependem de nós, estão nas nossas mãos, mas nem sempre somos claramente lúcidos nos momentos únicos de amar.
E agora? Agora, fico feliz pela tua felicidade, mas tarde te amei…
Respeite os direitos autoriais
Respeite os direitos autoriais