Telefonia de fétiches obscenos (IV)…

Telefonia de fétiches obscenos (IV)…

O dia foi stressante com as constantes notícias do Coronavírus e deixo-me vaguear na escrita, na doçura das palavras para adormecer as palpitações nervosas que rodeiam o coração. Os neurónios fervilham cansaço fustigante e deitado no sofá navego num veleiro sem rumo, na dança das labaredas do recuperador da sala, onde a música é vento que sussurra melodias aos tímpanos. O descanso do Criador num momento idílico, sossegado nesta noite fria e de recolhimento cada vez mais generalizado das pessoas.
Quase adormeço num roncar lento, quando sou interrompido pelo toque abrupto do telefone, como se fosse atropelado por um comboio a vapor.
Atendo com a subtileza de menino do coro e sou invadido pelos fantasmas do passado. A tua voz traz memórias passadas de palavras que abusaram dos arrepios, com brutalidades imorais impróprias num jogo de xadrez misterioso.
“Sou eu novamente, a tua viúva negra, a santinha vestida de put@, que adora sarcasmos e quer fazer de ti um otário. Sou a Criadora de desejos!”
Sinto o corpo a levitar nas recordações das anteriores chamadas telefónicas, onde fui chacinado corporalmente em espirais de alucinações e que deixou as hormonas como macacos nervosos aos saltos.
Não dás tempo à reciclagem cerebral e dizes tudo que te move:
“Quero jogar prazeres com o baralho dos monstros cruéis, acordar o animal que existe dentro de ti. Sei que és um dinossauro esfomeado e vais ficar a babar enquanto devoro esse pénis. Sou uma engolidora de espadas, quero esfregar na face o tesudo membro, lamber as beiças na ressurreição dos machos mortos”.
As tuas palavras são fogo ardente que acendem o candelabro da mente e acionam o cinto explosivo que implode dentro das boxers.
“Estou como gostas, estendida de botas altas, em lingerie vermelha e as cuecas já voaram sem asas. Não tenho misericórdia de ti, vou levar-te para o paraíso do inferno, enquanto ouves os gemidos das minhas próprias explorações vaginais. Esfolo gatos, mato cães com cio e vou arrebentar as correntes do animal sexual que habita dentro de ti”.
Atordoado pelo elixir das tuas palavras, trinco os próprios dentes com as torturas de tesão nas masturbações do ego e sinto o corpo todo a fumegar, arder em musculadas ereções.
“Tenho o rabo apertado com fome de explorações, os seios empolgados para lambidelas salivadas, a boca carente do membro a bater palmas em aplausos de tesão e a vulva humedecida ávida de estocadas imortais do cacete”.
Ouço tentações impróprias para o diabo, em delírio dou cabeçadas nas paredes, sinto o sémen a fervilhar em chamas no órgão genital e imploro que deixes de telefonar.
Mas os teus pensamentos são doentios, tocas tambores dos desejos com símbolos do inferno e ouço os sinos, arrebate. Gritas que és uma fodilhona matadora de hienas e que só paras quando ateares fogo à minha capela das confissões.
Desnorteado, alucinado nas euforias carnais, as mãos tomam de assalto o vergalho em riste até arrebentar o dique em explosões efusivas de jatos lácteos, enquanto solto, urros animalescos.
Ofegante, encharcado em suores das adrenalinas, pergunto se era isso que pretendias.
Do outro lado da linha, nem um pio, nem um gemido, apenas o silêncio absoluto do vazio…

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