Telefonia de fétiches obscenos (V)…

Telefonia de fétiches obscenos (V)…

Em modo “zen”, na escuridão da noite, na varanda dos sonhos, a ouvir músicas que penetram a alma e resguardado do frenesim do covid.
Abro a tampa da moleirinha pensante aos sentimentos de anjinho e autorizo o imaginário acontecer para cambalear romanticamente até adormecer.
Toca o telefone e fico na indecisão de atender ou continuar a brincar com os carneirinhos do sono.
A preguiça é mais forte e deixo tocar até desligar.
Passam apenas uns segundos e o “terrimmm” telefónico regressa, deixando o íntimo inquieto, pelos rubores da ansiedade.
Talvez seja algo urgente, não resisto e atendo.
- Boa noite Criador.
São as palavras que escuto do outro lado da linha e sinto no estômago os mortos a ressuscitar.
Reconheço o timbre ecoado nos tímpanos, é um fantasma dissimulado, que num passado recente andou a atormentar os tremores do corpo. A misteriosa mulher que se auto intitula, como a viúva negra, a rainha dos prazeres, a put@ vestida de santinha.
Respondo delicadamente e de forma a não dar a entender o reconhecimento da voz.
Olá, boa noite, quem fala? Quer falar com quem?
- Sou a Criadora de desejos, a cadela no cio e vim para seres animado, andas abatido, para quem diz ser um monstro sexual. Aconselho-te a sentar na poltrona, mesmo em frente ao espelho, que a praxe do júbilo ainda vai agora iniciar.
Perplexo com as esfaimadas palavras, deixo-me cair no sofá com a mente a suplicar veemente leviandade e apenas solto: diz…
- Julgavas que desapareci? Estou mais depravada do que nunca. Este confinamento deixa-me em estado estapafúrdio e com uma vontade louca de chicotadas de fornicações. Vesti-me de lua mascarada, a rastejar como uma serpente encantadora, quero envenenar o teu ego e vires como um réptil profanar todas as minhas entranhas.
Não paras de soletrar ignições ao tesão. Tremelicante engolo a própria saliva e afogo-me numa cascata de suores.
- Hoje sou eu que peço clemência, pelas sombras dos meus demónios, mas tu és o afamado boémio, o sanguinolento fodilhão e quero-te como amante selvagem. Ainda enigmática para ti, mas os lábios estão esfomeados de mamadas, a vulva fumega como uma panela de pressão e as nádegas submissas prontas a serem espancadas.
Cada palavra que ouço são catanas castradoras da sensatez. As minhas expressões, refletidas no espelho, são exposições do deboche num palco de representações. Sinto-me escravizado até ao osso pelo atrevido assédio. 
- Sente a efervescência dos meus espasmos, escuta o barulhinho dos dedos a chafurdar nos entrefolhos da rata, ouve o som e sente…
Xiiiiiiiii…tens o telefone junto ao sexo, ouço o “splasch” da invasão dos dedos na vagina ensopada.
Fico eufórico, com vibrações até à ponta dos dedos dos pés e início carícias nos testículos.
As tuas palavras são patadas de elefantes, que estilhaçam as vidraças da alma e abrem fendas do degredo no corpo.
- Anda para um duche obsceno, com molho picante, sentir a pele em chamas e enquanto arrombas os orifícios desta rameira, meto-te o dedo até à próstata.  A sobremesa será uma ementa de orgasmos doces. Vem!
Atazanado, deixo cair o telefone e nem respondo.
Mesmo assim, continuas a soletrar palavões fortes a incentivar desvarios sexuais.
Deste lado, só consigo ser punitivo na praxe carnal e enquanto arraso o pénis com impetuosidade, solto guinchos animalescos, até inundar o espelho de sémen.

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