Velejar corporal...

Velejar corporal...

Ando um pouco perdido no tempo, com necessidade de abafar desvarios, de falar poemas ao vento para as musas inspiradoras. É nas musas que busco os silêncios escondidos, onde escuto os ecos das suas vozes, algumas bem distantes e consigo falar com elas através desses silêncios.
Basta sentir, sem manipular verdades, mas apenas sentir…
É nestas reflexões espontâneas, que liberto da alma as blasfémias de amor que se encontram algemadas dentro do peito e quando se abre solto palavras com vocabulário atiçador.
Neste vazio, ainda pensei em saltar dum avião sem paraquedas, de voar num, asa delta, com as asas rotas, mas prefiro ouvir o barulho relaxante do mar.
Arregaço as mangas, iço as velas do veleiro e como um peregrino para Santiago, lanço-me numa viagem sobre a tua pele macia.
Não vou fazer da tua epiderme um caminho ímpio, mas um labirinto secreto, onde tentarei construir o puzzle da tua alma.
Sinto o juízo a estremecer, alguma ansiedade que corrói a felicidade, mas não me deixo derrotar por inglórias e enfrento sem medos as tempestades.
O teu corpo é uma ventania sem rosto, sobre ele estão construídos castelos de areia salgada e as tatuagens são livros com páginas douradas, escritos com muitas ânsias de histórias de amor.
Soltas gemidos, como se fossem desabafos de angústia, tens receios das investidas das minhas aventuras sedutoras, mas os nossos sorrisos tocam-se numa folia contagiante.
Somos os dois uns ilusionistas da imaginação, aproveitamos o vento a favor e velejamos numa velocidade até à meta imaginária.
És coroada com uma ternura esmerada, com beijos molhados no pescoço e dentadinhas nas orelhas. Não atraquei para esfolar-te a pele macia, mas incentivar arrepios na espinha e chicotear-te com a língua em beijos submissos, até navegarmos de mão dada na luxúria dos mares dos orgasmos.
Com o gesticular dos lábios a soprarem sílabas, sem uma única vírgula, nem interrogações, mas com muitos pontos de exclamação, incentivas os lados obscuros das feras indomáveis. Acaricio-te os cabelos, que se escapam como água entre os dedos, enquanto tentas ver-me nos olhos as bolas de fogo, a rebolarem pelos jardins proibidos a arderem de paixão.
Neste dialeto próprio dos deuses, com os corações a pulsarem como sinos a replicarem, olhamos o infinito e continuamos neste velejar corporal.

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