Violência confinada…

Violência confinada…

Menina doce, carregada de fantasias, alimentada pelo espírito ardente do coração frágil, corria na ilusão de um mundo de paixões, em busca da felicidade desejada.
Um único namoro na vida, sorrisos luminosos, butiques de beijos, desejos de um paraíso abençoado e um casamento de mil sonhos.
Mulher sonhadora, sensível, romântica, tudo parecia ser fábulas dentro dela, mas a vida são facas de dois gumes, que contrastam entre as realidades e as monstruosidades.
Em isolamento, há dois em casa, tudo se transformou e precipitou rapidamente e passaste a viver sufocada pelos maus tratos.
As cores ficaram negras, os risos em lágrimas, o corpo escravizado, a alma mártir, os gemidos de prazer evaporaram em gritos de dor no silêncio.
Um animal insensível, gélido, perdeu o emprego e sem escrúpulos avilta em ti toda a frustração. Dentro de quatro paredes ficou descontrolado contigo, com atos indeléveis, torturante nas palavras e com as mãos manchadas pelo pecado mortal.
És agredida, dor que rasga o íntimo, humilhada na essência feminina, suplicas ajuda aos ecos, ninguém ouve e cada segundo as dores no corpo são mais fustigadas de ansiedade.
A pandemia roubou a tua voz, apenas o espelho do sofrimento é testemunha e a única visão turbada do teu martírio.
Abortaram-se todos os prazeres, as silhuetas estampadas pelas sombras nas paredes do quarto, são estalos, socos, empurrões, agressões bárbaras e inundam de sangue a mulher imaculada.
Ele, cada dia mais cruel, agora perdido no refúgio do álcool, violento, sanguinário, mas cujo destino está traçado e escrito direito por linhas tortas.
A tosse seca, os arrepios, a confusão mental, a febre alta e as sensações de falta de ar, pioram a cada dia e precisa de assistência médica. Positivo, infetado pelo Covid-19 e tu também.
Dois seres humanos, duas sortes opostas, a tua estava a ser terrivelmente madrasta, mas a dele, o teu carrasco, numa semana foi fatal, a morte.
Recuperada, não precisas de rastejar mais, és deusa divina e mereces ser o que verdadeiramente és: simplesmente Mulher.
Uma página virada, acreditas num novo futuro, feliz, merecidamente sem confinamentos e muito menos sem violências.

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