Voar no amor...
O tempo voa, mas as memórias perduram e ainda sinto que sou um carteiro de beijos.
Nos recintos vazios, somente acompanhado pelo zumbido das moscas, escuto no mar os sorrisos que brilham ao longe. Não é só quando acordo, é também enquanto durmo que sonho contigo e da tua alma, continuo a guardar os ecos da sua pureza. Foste concebida pelo perfume do encanto e fazes de mim um príncipe perfumado, impregnado por ti até ao tutano.
Não é fácil a gestão emocional da distância, tento abstrair-me a ouvir melodias ao vento, a acenarem para mim, como se fosses tu a chamar este Aladino dos sonhos.
O coração é valente, arde como uma lareira acesa, sempre na intensidade máxima para acender novas loucuras.
Os atalhos que tracei no teu corpo, foram rodízios musicais e deixei a tua pele corada e carregada de entusiasmos. Os momentos nos teus braços foram sapateados de línguas dançantes, com troca de palavras cúmplices, diria intensamente atrevidas e que fizeram o sangue fervilhar como um lobisomem feroz, ávido para amar.
Como recordo, cada recanto da boca, os lábios a disparem beijos como pistolas suicidas, os olhares flamejantes a falarem, os corpos estendidos, a primeira apalpadela no rabo e a fasquia do desejo a ser elevada a cada segundo. Usamos o lenço, não foi para dizer adeus, mas o que vendou os olhos, nas carícias recíprocas e nas ousadias das línguas nas zonas erógenas. Ainda fico com as pernas trémulas e a viver os gemidos a gladiarem-se com os estalidos das palmadas nas nádegas. A cama foi o baloiço da felicidade, os lençóis o campo de batalhas e as armas usadas entre nós, foram as setas do cupido. Parece que ainda ouço os pingos dos orgasmos a escorrerem pelo sexo e a pingar no chão. Alimentas esta máquina dos sonhos, diariamente faço aviões de papel impregnados de desejo e lanço ao ar como se fossem sementes acordadas e quem sabe poderem fertilizar na selva molhada.
Recordo, cada segundo, como nos filmes de amor, os banhos no duche, o puxar dos cabelos molhados, os calafrios ardentes dos beijos, as mãos a vaguearem nos seios e as excitações a serem o trampolim para penetrações esfuziantes.
Nas overdoses de corpo e alma, fomos musicalidade romântica, tateamos os esqueletos e soubemos enterrar as nódoas negras do espírito um do outro.
Ainda sinto o odor das pegadas e o brilho da tua íris a vaguearem em redor de mim.
És uma oferenda dos deuses, o ouro, o incenso e a mirra que qualquer homem deseja receber.
Quero colocar as asas feitas de pecado e voltar a nadar no lago das loucuras e voar sem fim.
As portas estão fechadas pelos confinamentos, mas vou abrir a janela à felicidade e perguntar às gaivotas se porventura sabem, se queres voar no amor…
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