Vencer em silêncio...

Vencer em silêncio...

Com os dias a serem rolos compressores, os olhares dos humanos encarnaram em arrepios e os espíritos estão a morrer. Pelos confins do mundo só ouço gemidos de dor, com abraços da tristeza profunda e as vozes torturantes dos sorrisos fechados. Nesta fase até os dias são escuridões, as marés perigosas e em cada luzerna é refletida as sombras da cruz de mais um cadáver.
Dizem para ficar em casa, mas cansei dela. Não posso estar de braços cruzados, tenho de passar a mensagem da esperança e decidi abrir-me ao mundo.
Fui à garagem buscar um balão colorido, larguei tudo e viajei como se fosse o porteiro do céu.
Carreguei apenas o essencial, para sentir aqui, bem do alto o vento a soprar bafos de amor. Trouxe, um espelho onde revejo os nossos momentos íntimos, os frascos com os odores dos perfumes femininos, as salivas das línguas húmidas e os loucos objetos do prazer. Na pele trago as marcas dos beijos e as tatuagens com os cardápios dos gritos e gemidos das loucuras íntimas de amar.
Na escuridão da noite, a lua espelha no mar, o cérebro veio vazio, apenas os miolos a ferver, impulsionado pelo coração sempre a pulsar no cantinho da paixão.
Com a mente navegante, a voar bem alto sobre a imensidão dos oceanos, isolado do mundo com rotas sem destino, mesmo com os ruídos filtrados, sinto ao longe os rostos esbatidos e os espíritos drogados pelo cansaço dos confinados.
Não trouxe comigo o dicionário, pouco importa já o destruí todo com palavras imorais e que só existem na fantasia dos mentecaptos.
Para abstrair de tudo, utilizo a escrita, tento usar o talento do erotismo picante, para através das malícias, criar no imaginário, excitações mentais de júbilo.
Tenho de acreditar e mais importante fazer acreditar aos outros que melhores dias virão.
Sei que ainda vamos derramar muito sangue nas lutas, mas sobre os destroços da mortandade, chegará a felicidade humana e iremos reconstruir um mundo novo.
Nesta agonia silenciosa, atiro novas folhas de histórias gloriosas dos nossos antepassados ao vento, para todos lerem e refletirem. Para os analfabetos, pego num megafone e grito aos tímpanos esmorecidos, de forma a despertar as almas com pouca fé.
Vamos vencer em silêncio.


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